Referência mundial em vacinação por décadas, o Brasil enfrenta uma grave crise na adesão às vacinas. Desde 2016, o hábito de se imunizar caiu drasticamente, ameaçando a saúde pública e a erradicação de doenças. Dados do Observatório da Atenção Primária à Saúde mostram que, enquanto a cobertura vacinal permaneceu acima de 70% entre 2001 e 2015, despencou para 59,9% em 2016, um nível preocupante para o controle de epidemias.
Especialistas apontam como principal fator a falsa sensação de segurança gerada pelo sucesso da erradicação de doenças no passado. "Sem epidemias recentes, o brasileiro relaxou na vacinação", explica Akira Homma, assessor científico sênior da Fiocruz. Para Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o desinteresse da população persistiu, apesar das campanhas publicitárias.
A disseminação de fake news durante a pandemia de Covid-19 agravou o cenário. "A desinformação vinda até mesmo de lideranças do governo anterior dificultou ainda mais a adesão", critica Homma.
Saúde reforça importância da continuidade da vacinação com o fim do estado de emergência da Covid-19
Foto: Jonathan Campos/AEN
Promessa de Lula ainda não surte efeito
Ao assumir a presidência, Lula prometeu priorizar a vacinação em seus primeiros cem dias de governo. Com campanhas reforçadas e a volta do emblemático Zé Gotinha, o governo gastou bilhões em imunizantes. No entanto, a meta de 95% de cobertura vacinal, ideal para proteger a população contra surtos, ainda está longe de ser alcançada.
A crise vacinal é um alerta não apenas para o retorno de doenças já erradicadas, mas também para a necessidade de resgatar a confiança do brasileiro na imunização. Especialistas destacam que campanhas educativas, combate às fake news e maior engajamento das lideranças podem ser o caminho para reverter esse quadro.